quinta-feira, 17 de abril de 2014

'Cegos': do Funchal para Nova Iorque



‘Cegos’ nas ruas da capital madeirense. Homens e mulheres trajados de empresários com o rosto vendado percorreram as ruas do Funchal, numa performance inspirada pela parábola de Cristo e por uma pintura de Pieter Bruegel.

 Por PATRÍCIA GASPAR
“Deve ser uma crítica aos que nos andam a roubar o dinheiro. Deus que me perdoe… parecem mortos-vivos”, arriscava um homem na casa dos 60 anos. “Não, isto deve ser um protesto contra as barreiras físicas?”, Retorquia-lhe uma jovem em tom  assertivo. Os palpites multiplicaram-se, esta tarde,  à passagem da performance ‘Os Cegos’ pelas ruas da capital madeirense.
Para Henrique Amoedo, estava cumprido o objectivo da intervenção artística que juntou dezenas de pessoas, numa Quinta-feira Santa de pouco sol.. “Queremos mexer com o ambiente. Fazer com que as pessoas olhem para o que vêm todos os dias de outra forma”, explicou o director artístico do Grupo Dançando com a Diferença.
Henrique Amoedo desassocia qualquer mensagem política da performance mundial que vai percorrer 28 cidades do Brasil e grandes metrópoles internacionais, como sejam Nova Iorque, Berlim e Roterdão.
Denominada “Performance Intervenção Urbana – Cegos“, a intervenção artística que percorreu as ruas do Funchal, esta tarde, nasceu pelas mãos dos professores Marcos Bulhões e Marcelo Denny do Laboratório de Práticas Performativas da USP e chegou à Madeira através do responsável pelo Grupo Dançando com a Diferença.
A expressão artística inspirou-se em duas perguntas atribuídas a Jesus e registadas pelo Evangelho de  Mateus que deu origem, em 1568, ao quadro ‘A parábola dos cegos’, do pintor holandês Pieter Bruegel. A resposta de Bruegel para as perguntas de Jesus foi: “Um cego não pode guiar o outro”. Mas, não foi assim que aconteceu hoje à tarde, quando um invisual guiou dezenas de pessoas pela cidade.
“A interpretação da arte está em quem a vê… Pode-se pensar em barreiras físicas, na cegueira literal, até em obstáculos económicos: a mensagem está nos olhos de quem vê”, insistiu Henrique Amoedo, à passagem dos artistas.
 
Seja qual for a interpretação da performance ‘Os cegos’, certo é que o evento atraiu a atenção de muitos turistas, num dia de fraca oferta cultural e com a maioria das lojas e dos museus a optar por fechar portas.

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