quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A pouco amistosa visita de Mário Soares e Ramalho Eanes à Madeira a 23 de Outubro de 1976

DOSSIER WIKILEAKS
Por EMANUEL SILVA
(…) Um dos episódios relatados nos telegramas da embaixada dos EUA em Lisboa e divulgados pelo Wikileaks prende-se com a visita à Madeira, a 23 de Outubro de 1976, para a instalação da Assembleia Regional, do então presidente da República, Ramalho Eanes e do então primeiro-ministro, Mário Soares.
 
Diz o telegrama que os governantes do continente foram recebidos na ilha de forma pouco caloroso e com um editorial demolidor de Alberto João Jardim no ‘Jornal da Madeira’. “Mário Soares foi vaiado pelo público na sua chegada à Assembleia Regional” e o discurso “patriótico” e “nacionalista” de Ramalho Eanes, sem nunca mencionar a palavra ‘Autonomia’, gerou grande desconfiança.
 
Uma outra mensagem publicada pela Wikileaks mostra que o grupo empresarial Grão-Pará contactou a Embaixada dos EUA, em Dezembro de 1974, para tentar vender parte do seu património, por estar em dificuldades na Madeira, onde tinha o complexo turístico Matur/Atlantis. O grupo de Fernanda Pires da Silva pedia 150 mil contos.
 
Num outro telegrama dá-se conta de especulações sobre a instalação, na Madeira, de uma base da indústria pesqueira soviética. O alarme soou em Agosto de 1974, quando a empresa ‘Wiese’ pediu autorização para instalar tanques de combustíveis no Funchal. A embaixada dos EUA desconfiava de objectivos militares e aconselhou Washington a enviar o navio-escola 'Eagle' ao Funchal, como “símbolo dos laços luso-americanos”. No telegrama de 9 de Abril de 1975, Carlucci relata a conversa que teve com o embaixador soviético, em que este garantiu ser uma mera operação comercial.
 
Um dos episódios mais dramáticos do 'Verão quente' foi o ataque dos militantes da União do Povo da Madeira (UPM) ao iate 'Apollo' e a expulsão do navio e dos seus tripulantes do Funchal (3 e 4 Outubro de 1974), sob a acusação de serem agentes da CIA. No site da Wikileaks há cerca de dez mensagens diplomáticas sobre o assunto, incluindo uma que descreve um encontro em que o primeiro-ministro Vasco Gonçalves fala em tais suspeitas. Mas nenhuma mensagem confirma actividades da CIA.
 
O que há, sim, é uma mensagem de 10 de Abril de 1974, oriunda de Marrocos, que prova que ainda antes da 'revolução dos cravos' os serviços diplomáticos americanos investigaram as actividades misteriosas do navio e associaram-nas à Igreja da Cientologia.
 
Há também mensagens que mostram que a diplomacia americana manteve o 'Apollo' 'debaixo de olho' após a conturbada saída do Funchal, seguindo-o em escalas em Cádiz, Trindade e Tobago e Curaçao. (CONTINUA… LEIA AMANHÃ O ÚLTIMO POST)

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